A maioria dos pacientes candidatos a uma cirurgia plástica refere preocupações em relação à anestesia e seus riscos. Algumas pessoas afirmam para o cirurgião escolhido que, não têm medo da cirurgia em si, mas estão temerosas quanto à segurança da anestesia.
Essas afirmações têm fundamentação certa em duas observações: a primeira, relacionada com as reações aos anestésicos que eram apresentadas pelos pacientes submetidos à anestesia geral antiga: 30, 40 anos atrás. Época na qual, a anestesia era realizada com clorofórmio, éter, trilene e outros produtos que apresentavam pouco controle no nível anestésico e um grau elevado de toxicidade assim sensibilização crítica da fibra cardíaca, com efeito residual excessivamente prolongado e um mal-estar intenso no pós-operatório. Vômitos eram frequentes, gerando um desconforto importante para o paciente e muita preocupação para o cirurgião.
Essa era a única opção de anestesia na ocasião e sem ela, muitas cirurgias jamais teriam sido realizadas.
A segunda observação se deve ao sensacionalismo que a imprensa faz, toda vez que ocorre um acidente anestésico. Desprezando os milhares de anestesias gerais realizadas no dia de um acidente, sem qualquer complicação e com excelentes resultados, toda a atenção é voltada para aquele episódio isolado. Que se torna gigantesco quando a vítima é uma pessoa de conhecimento amplo: um artista de televisão, um esportista famoso, um político conhecido. Nessas circunstâncias abrem-se espaços na primeira página dos jornais, edições extraordinárias de telejornais são levadas ao ar e o povo se apavora com o “terrível” acidente.
Ressalta-se que: os milhares de anestesias realizadas no mesmo dia, com total sucesso não se tornaram manchetes nem sequer foram citados para mostrar que o acidente era uma exceção e não a regra. Mas, infelizmente esse é o espírito da mídia: mostrar sempre e com ênfase, as mazelas, a miséria e a notícia ruim. As coisas boas, dizem, não vendem jornal nem dá ibope…
Hoje, dificilmente um paciente irá apresentar mal estar, vômitos e demorada prostração após uma anestesia geral bem conduzida, para uma cirurgia plástica. Contudo não se pode dizer que isso ocorrerá em 100% dos casos, em absolutamente todos os pacientes. Cada um tem a sua história pessoal, cada um tem reações diferentes e algumas surpresas podem ocorrer.
A cirurgia plástica não é um simples tratamento cosmético que pode ser indicado e realizado em qualquer local e de qualquer forma. Toda a segurança de uma anestesia geral e de uma cirurgia está embasada, prioritariamente, num exame clínico minucioso e bem feito, nos pacientes que serão operados.
Se tudo está absolutamente bem, é quase certo que não haverá qualquer complicação. Nem por isso pode-se dizer que “não existem riscos”. A vida, em si já é um risco. Portanto não há nada que se faça neste mundo, que não tenha sua parcela de risco. O importante é saber disso e tomar todas as medidas necessárias para reduzi-lo a um mínimo tolerável.
Contudo, em quase todas os procedimentos existem as duas possibilidades: geral ou local. Nesses casos, a escolha deverá ser feita através de uma detalhada conversa entre o cirurgião e o paciente, às vezes incluindo o anestesiologista que poderá opinar melhor, em função da cirurgia a ser realizada e as condições gerais do paciente.
De qualquer forma, há que se levar em conta um lado bem pouco considerado, que é o aspecto psicológico do paciente. Alguns afirmam claramente: “Quero operar, mas não quero ver absolutamente nada!” Nesses casos, a anestesia geral costuma ser o procedimento mais correto e seguro.
Resumindo, a escolha do tipo de anestesia não pode ficar restrita ao desejo do paciente e sim deverá ser o resultado de uma avaliação física e psicológica do mesmo, pelo cirurgião; de uma análise criteriosa do tipo de cirurgia a ser realizado, seu tempo de duração, sua complexidade e as estruturas que serão abordadas e mobilizadas; e da indicação do anestesiologista que, bem articulado com o cirurgião estabelecerá o procedimento mais seguro e adequado para cada paciente.
Duas outras considerações devem ainda ser feitas: primeiro, com relação ao intervalo entre uma anestesia geral e outra. Alguns pacientes querem fazer duas cirurgias e receiam a repetição da anestesia geral. Como regra geral, não há um intervalo exato para se interpor entre duas anestesias gerais, desde que a primeira tenha transcorrido sem qualquer anormalidade. O elemento essencial será a avaliação do paciente e dos procedimentos cirúrgicos que serão realizados. Como princípio, um intervalo de 30 (trinta) a 60 (sessenta) dias será desejável. Mas nada impede que, dependendo da avaliação acima citada, se faça uma nova intervenção até alguns dias depois da primeira.
A segunda, também importante, diz respeito aos honorários do anestesista, especialmente em procedimentos associados. É comum paciente questionarem por que os honorários referentes à anestesia são aumentados quando ocorrem dois ou mais procedimentos cirúrgicos. Afinal, perguntam eles, não é uma só anestesia?
Em tempos passados os honorários do anestesiologista eram estipulados pelo tempo de duração das cirurgias. Nos convênios havia um valor para a primeira hora de anestesia, a qual era indivisível. Depois, o tempo era marcado por quartos-de-hora e cada um deles recebia a remuneração respectiva. Por razões que não cabe aqui discutir, esse critério foi modificado e para os convênios, hoje, existe uma classificação numérica das cirurgias conforme o seu porte, que varia de 1 a 6. Independentemente do tempo de duração da cirurgia, a remuneração se refere ao porte daquela cirurgia. Contudo, se dois ou mais procedimentos são realizados num mesmo ato cirúrgico, somam-se também os respectivos portes para se estabelecer o valor final.
Portanto, se dois procedimentos forem realizados num só tempo, o cirurgião receberá pelas duas cirurgias e o anestesiologista um percentual do total recebido pelo cirurgião.
Isso é bastante justo uma vez que, ao contrário do que muitos pacientes pensam, a anestesia geral não é um medicamento que o médico faz e vai embora para casa. Durante todo o ato cirúrgico ele fica presente, controlando não só as reações do paciente, mas as diferentes quantidades de diferentes medicações que devem ser administradas continuamente para se obter um bom nível anestésico, com um máximo de segurança.
Por isso seus honorários se ampliam proporcionalmente à ampliação do ato cirúrgico.
E o risco de uma anestesia geral para uma cirurgia programada, quando todos os cuidados foram tomados, é inferior ao de se dirigir um automóvel, da porta de casa no bairro, até o centro de uma grande cidade. Riscos sempre existem, mas ninguém deixa de andar de carro por essa razão, assim, ninguém deve deixar de fazer um tratamento de que necessita, por causa das fantasias de riscos ou problemas.
Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
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